sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Degustação de vinho em Minas ..........








- Hummm...


- Hummm...



 

- Eca!!!

- Eca?! Quem falou Eca?

- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?


- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...

- Putaqueupariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!


- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?

- Cêbêsta sô, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!


- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!


- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?

- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como  segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...


- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!

- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...

- Mais num vai introduzi é nada e nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustaç
ao.
Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...


- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...


- O senhor poderia começar com um Beaujolais!

- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!


- Então, que tal um mais encorpado?


- Óia lá, ocê tá brincanu com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!

- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de metê um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!


- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?

- E que tal a mão no pédovidu, hein, seu fióte de Belzebu?


- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?

- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!


- Mole e redondo, com bouquet forte?


- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é trêis! Num corre, não, fiudaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta num tem amor na vida não seu peste!


Luiz Fernando Veríssimo

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