quinta-feira, 17 de maio de 2012




Excelente crônica. Nestes tempos bicudos de declaração de imposto de renda, onde o fisco brasileiro considera que salário é renda, o que conflita com toda a teoria econômica, e deixando claro que nós, os contribuintes, somos os “comuns” que sustentam os “incomuns”, eis que me deparo com uma crônica muito boa, escrita por Marcos Frank, cronista de sábado do jornal O Informativo, do Vale do Taquari, Lajeado RS.

CARTA AOS CONTRIBUINTES
“Prezado contribuinte. Nós, da Receita Federal, agradecemos seu empenho em acertar as contas com a União. Ainda bem que você fez tudo a tempo e não se atrasou, ou seríamos obrigados a multá-lo. Sabemos que, quando ocorre o contrário, ou seja, quando o governo se atrasa em suas obrigações, nada acontece… mas também é verdade que ninguém reclama nessa hora. Nós não temos culpa se os outros serviços prestados ao cidadão são uma porcaria, apenas nos orgulhamos de ter construído, com nosso esforço, um dos órgão públicos mais eficientes do país. Por isso conseguimos a verba que paga a viagem da esposa do senador para Paris, da filha do nobre deputado para Miami e, quando necessário, são as verbas que duramente arrecadamos que ajudam senadores e deputados a andar em carros novos e seguros. Além disso, graças ao seu dinheiro e ao nosso esforço em arrecadá-lo, são pagas as milhares de Bolsas Família que tornaram nosso ex-presidente tão popular e que permitem que nossas classes menos abastadas possam se reproduzir sem culpa. Lembre-se também que o seu dinheiro gera riqueza ao pagar empreiteiras, construtoras e agências de publicidade pelos bons trabalhos que prestam ao governo federal. Graças a elas temos estradas de Primeiro Mundo, prédios públicos confortáveis e, acima de tudo, uma propaganda tão boa que até a Dilma parece simpática. Seu esforço em pagar com precisão os impostos também permite ao país brilhar lá fora. Afinal, sem ele, seria impossível ajudarmos na construção do metrô de Caracas, de estradas na Bolívia e de represas no Equador. Pena que muitas vezes tais países não honrem seus compromissos. É por isso que mais uma vez seu exemplo de pagar em dia se faz necessário, é uma questão também didática. Os impostos que você paga também ajudam no pagamento dos cartões corporativos dos nossos colegas, servidores públicos. Graças ao seu dinheirinho, eles podem comprar mesas de bilhar para relaxar e desestressar após uma penosa jornada de trabalho. Podem, ainda depois de uma longa e extenuante viagem ao exterior, passar num “free shop” e fazer umas comprinhas, como fez aquela famosa ex-ministra. Convém, porém, lembrá-lo que se esquecer de algum detalhe, seremos obrigados mais uma vez a emitir uma multa. Ao contrário de nossas autoridades, sempre tão atarefadas, você, caro contribuinte, não tem o direito de dizer que não sabia de nada.”



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